sábado, 9 de maio de 2009

A hora e vez de Augusto Matraga e a Filosofia Grega

Homero

Justiça na Virtude e não na Força, na Prudência

A Ilíada, em seu clímax, trata da desavença entre Aquiles, que é um herói militar grego, e o general dos gregos, Agamenon, por causa de uma refém, de uma prisioneira de guerra que os dois disputam. E, em cima disso, vai surgir a idéia de prudência, a idéia do ser humano conseguir analisar a realidade a partir do conhecimento dos limites comuns, e assim saber como ele pode ou não pode proceder. No caso, existe o excesso, a imprudência das duas partes; tanto de Aquiles quanto de Agamenon.
A obra máxima do gênio ocidental começa com um momento baixo do herói grego: o momento da ira de Aquiles. A partir desse momento negativo é que Homero nos ensina os conceitos centrais da virtude grega. Virtude para os gregos é areté.
A civilização grega abomina a desmesura. O maior pecado para o homem grego é conhecido como a hybris, a falta de equilíbrio. A busca do equilíbrio apolínio (do deus Apolo), das linhas equilibradas. A Ilíada inicia-se com uma lição negativa: o maior herói grego age com desmesura, age sem a prudência. Ele castiga os inimigos e comete o ato mais bárbaro aos olhos do grego que é não só matar o inimigo, mas deixá-lo sem sepultura.
O mestre de Aquiles (Félix) fala: Você deve se perpetuar pelas ações e pelas palavras. Você não veio à Terra para dominar os povos e oprimi-los. Você veio aqui para enaltecer as palavras e as ações. Isso é a filosofia do direito de Homero. Para Aristóteles, o homem é um ser político, loquaz.

Aquiles, o heroísmo sobre-humano de um jovem magnífico que prefere, em plena consciência, a dura e breve ascensão de uma vida heróica a uma longa existência sem honra. Sem indulgência pelo adversário só se atenta pela busca da glória pessoal. O triunfo de Aquiles sobre o poderoso Heitor, em que a tragédia da grandeza heróica se mistura com a submissão do homem ao destino.
Homero situa o homem em primeiro plano e o seu destino. O caráter antropocêntrico do pensamento grego.

Outra lição importante de Homero é a lição ética. A ética é o conjunto de valores de uma sociedade, conjunto de valores humanos. Mas os gregos tinham uma noção originária da ética. A ética “aqui moram também deuses”. A ética é o ethos, a morada dos deuses. Tudo que é separado na filosofia moderna, religião-política, religião-filosofia, é unido na filosofia grega. Ethos antropos daimon, essa é a lição também de Homero. Para Heráclito, A personalidade do homem é o seu destino – Ethos antropos daimon.

A Odisséia exalta, sobretudo em seu herói principal, acima da valentia, a prudência e a astúcia (Odisséia – Livro IX).
Mas, Ulisses também sabe ser imprudente:
Então os meus companheiros diziam-me, pediam-me que os deixasse tirar alguns queijos antes de nos irmos embora; depois regressaríamos a correr à nau ligeira, não sem termos feito sair dos estábulos cabritos e anhos, e navegaríamos sobre a onda salgada; mas eu não consenti, o que, todavia, teria sido bem melhor; queria vê-lo e esperava que ele me daria presente de hospitalidade. Mas o seu aparecimento não viria contribuir para a felicidade dos meus companheiros.
Se ele ouvisse um de nós elevar a voz e falar, não tardaria a quebrar as nossas cabeças e as tábuas da nossa nave com um áspero rochedo, porquanto pode ainda atingir-nos
A astúcia de Ulisses:
_ Que dor te apoquenta, Polifemo, e por que motivo em plena noite imortal soltaste esses gritos que nos despertaram? Acaso um mortal se apossa contra a tua vontade dos teus rebanhos, ou procuram matar-te por manha ou violência?
E do fundo do antro, o forte Polifemo respondeu-lhes:
_ Quem mata, amigos? Ninguém, por manha; não há violência.
Eles dirigiram-lhe em resposta estas palavras aladas:
_ Se ninguém te faz violência e tu estás sozinho, é sem  dúvida uma doença que te envia o grande Zeus e que tu não podes evitar; invoca então o nosso pai, o poderoso Posídon.
Antígona

O direito que vem da linha feminina e não machista dos coronéis, o direito moral – enterrar o irmão – e não o direito do poder constituído

Toda a trama de Antígona, a discussão sobre os direitos fundamentais em Antígona, gira em torno deste quito ancestral sagrado: o enterro digno, o enterro religioso.


A Mulher na Cultura Aristocrática

Na velha cultura aristocrática a areté própria da mulher é a formosura. Isto é tão evidente como a valorização do homem pelos seus métodos corporais e espirituais. A formação da mulher é a cortesã das idades cavaleirescas. A mulher não surge apenas como objeto de solicitação erótica do homem, como Helena ou Penélope, mas também na sua firme posição social e jurídica de dona de casa. Suas virtudes são a modéstia e o governo do lar.
Penélope é muito louvada pela moralidade rígida e virtudes caseiras. Desamparada e ignorante do paradeiro do esposo, e, apesar das dificuldades surgidas com os pretendentes, é senhora fiel e afetuosa para as servas. Mulher inquieta e angustiada pelo cuidado com seu único filho.


Platão – O Mito da Caverna

O Matraga original via só as sombras, as aparências, e, ao ser expulso da caverna, seu sítio, após a surra, ele vem a reconhecer a verdade sobre seu comportamento social injusto

A caverna: uma imagem da Paidéia

Sócrates

Retrata homens vivendo numa caverna subterrânea, a qual se abre para luz por uma comprida galeria. Seus moradores estão presos nela desde a meninice e só podem olhar para frente. Estão de costas para a saída. No fundo da galeria arde uma fogueira. Os prisioneiros não podem voltar a cabeça para a saída da gruta, por isso, durante a vida inteira, só viram sombras. Então, consideram-nas como realidade. Quando as veem passar, ouvem vozes dos portadores e julgam ser das sombras.
Se um prisioneiro saísse para a luz e a fitasse, seria incapaz de contemplar as cores brilhantes das coisas cujas sombras vira antes, e não acreditaria em quem lhe afiançasse que tudo o que vira antes era nulo. Estaria de tal forma convencido de que as sombras constituam a realidade que correria para esconder-se outra vez na gruta, com os olhos doloridos. Precisaria ir se acostumando, com o tempo, até poder estar em condições de contemplar o mundo da luz. A princípio, não poderia ver senão as sombras e, em seguida, as imagens dos homens e das coisas refletidas na água, e só por fim estaria apto a ver diretamente as coisas. Contemplaria o céu e as estrelas da noite e a sua luz, até que se sentiria capaz de olhar diretamente o sol (não o seu reflexo nas águas ou em outros objetos).
Quando se lembrasse da consciência que tinha na prisão e de seus companheiros, considerar-se-ia feliz pela mudança, e lamentaria seus antigos irmãos de cativeiro. E se entre os prisioneiros houvesse honras e distinções para premiar aqueles que melhor distinguissem as sombras, não seria fácil ao cativo resgatado desejar aquelas honras. Tal como Aquiles de Homero, preferiria ser o mais humilde jornaleiro do mundo da luz do espírito a ser rei daquele mundo de sombras. Por outro lado, se voltasse para a caverna, a rivalizar com os outros cativos, cairia no ridículo, pois já não conseguia ver mais nada nas sombras. Seria dito que ele arruinara os olhos ao sair para a luz. E, se tentasse libertar outro qualquer para o mundo da luz, correria o risco de ser morto.
Sócrates antecipa todo um processo espiritual, mediante a visão da ascensão da alma à região da luz e da verdadeira realidade. Põe em relevo a metamorfose operada na alma.
Platão interpreta as alegorias do sol e da caverna, entende ser uma conversão, um volver ou fazer girar toda a alma para a luz da idéia do bem.
Hesíodo

Os Trabalhos e os Dias

O Mundo do Trabalho

A luta silenciosa e tenaz dos trabalhadores com a terra dura e com os elementos tem o seu heroísmo e exige disciplina, qualidade de valor eterno para a formação do homem. A Grécia foi o berço de uma humanidade porque pôs acima de tudo o apreço pelo trabalho. Heródoto destaca que a Grécia sempre foi um país pobre, mas baseia nisso sua arite. Submete-se a uma lei austera. Assim se defende da pobreza e da servidão. Seu solo é formado por vales estreitas e paisagens cortadas por montanhas. Quase não tem vastas planícies, o que obriga a uma luta incessante com o solo para arrancar dele o que só assim pode dar. A agricultura e o pastoreio foram sempre as ocupações mais importantes.

Qual que é o tema do poema?

(...) é o processo com o seu irmão Perses, invejoso, briguento e preguiçoso, que, depois de ter malbaratado a herança paterna, insiste constantemente em novos pleitos e reclamações. Da primeira vez conquistou a boa vontade do juiz por meio de suborno. A luta entra a força e o Direito que se manifesta no processo não é, evidentemente, um assunto meramente pessoal do poeta; este se torna, ao mesmo tempo, porta-voz da opinião dominante entre os camponeses. O seu atrevimento é tão grande que chega a lançar no rosto dos senhores ‘devoradores de presentes’ a sua ambição e o abuso brutal do poder. (Paidéia, página 87)

Hesíodo reclama de o seu irmão ter usurpado da herança. O irmão representa a luta entra a força e o direito que se manifestam no processo. Força em grego, bias, kratos e o direito, nomos. Hesíodo é o poeta do nomos. Em Hesíodo temos um novo conceito de justiça que corresponde à nova condição sociológica da classe a qual ele pertence: a classe dos camponeses. Esse descontentamento de Hesíodo em relação à classe dominante manifesta-se pela invocação de uma nova deusa da justiça, que é chamada Diké.
O poeta quer que Perses ouça sua doutrina e que este esteja disposto a se deixar guiar por ela, caso não seja capaz de conhecer intimamente o que lhe é proveitoso e o que lhe é prejudicial. É o fundamento primeiro de uma doutrina moral e pedagógica. Perses não tem concepção justa, mas o poeta admite que ela possa ser ensinada. O trabalho não é vergonhoso, a ociosidade, sim. Traz respeito e consideração. Faz-se necessário desvie a atenção da cobiça dos bens alheios e foque seu próprio trabalho, cuidando de mantê-lo.
O conceito de justiça de Homero é o conceito aristocrático, dos reis, dos aristocratas, dos guerreiros, e não dos trabalhadores. A obra de Hesíodo é chamada Erga, Os Trabalhos; trata do conceito de trabalho na Grécia.
Hannah Arendt, em A Condição Humana, explica o conceito de trabalho da Grécia diferente do conceito bíblico, porque no conceito bíblico de trabalho existe a idéia da maldição e na Grécia não existe essa equiparação do trabalho com a maldição. Em Hesíodo tem-se um novo conceito de justiça. Diké converte-se, aqui, para o poeta, numa divindade independente. É a filha de Zeus que se senta junto dele e que se lamenta quando os homens aplicam desígnios injustos.
Como é justiça em grego? Diké. Como é a justiça para Homero? Têmis. Atende à justiça e esquece a violência. Violência em grego é Bia ou kratos. Hesíodo pensa que, entre os homens, não deve se apelar jamais para o direito do mais forte
Toma isto em consideração: atende à justiça e esquece a violência. É o uso que Zeus impõe aos homens: os peixes e animais selvagens e os pássaros alados podem devorar-se uns aos outros, porque entre eles não existe o direito. Mas, aos homens, concedeu ele a justiça, o mais alto dos bens. (Paidéia, página 97)
No quê que é diferente a justiça de Homero e a justiça de Hesíodo? A justiça da Diké é a justiça dos fracos contra os fortes. É em nome de Diké que os gregos, tempos depois, irão lutar contra os persas, contra os orientais, contra a civilização irracional da renúncia da vida e do trabalho. Os gregos exaltam o trabalho. O trabalho é celebrado como o único caminho, ainda que difícil, para alcançar a arete (a virtude). O conceito abarca, simultaneamente, a habilidade pessoal e o que dela deriva bem estar e consideração. Não se trata da arete guerreira da antiga nobreza (a justiça de Homero), nem da arete da classe proprietária, baseada na riqueza, mas sim da arete do homem trabalhador, que tem a sua expressão numa posse de bens moderados. Aristóteles condenava o esbanjamento de dinheiro. O ideal do grego não é um ideal de pobreza, é um ideal de moderação. É por isso que Hesíodo é o poeta do povo, é o poeta do Direito. Daí é que surge a idéia de Direito. Hoje em dia, nós esquecemos que o Direito volta, às vezes, a ser o que era na época de Homero: o direito de uma classe aristocrática.
O seu objetivo é arete, tal como a entende o homem do povo. Quer fazer dela alguma coisa. Em vez de ambiciosos torneios cavaleirescos exigidos pela ética aristocrática, surge a calada e tenaz rivalidade no trabalho (Paidéia, página 100)
Dois irmãos que se odeiam, como na Bíblia há Caim e Abel, só que o trabalho não é amaldiçoado.
O Homem deve ganhar o pão com o suor do seu rosto. Mas isto não é uma maldição, é uma benção. É este o preço da arete. Assim ressalta com perfeita nitidez que Hesíodo quer com plena consciência colocar ao lado do adestramento dos nobres, tal como se espelha na epopéia homérica, uma educação popular, uma doutrina da arete do homem simples. A justiça e o trabalho são os pilares em que ela assenta. (Paidéia, página 100)
Na poesia de Hesíodo consuma-se, diante dos nossos olhos, a formação independente de uma classe popular, excluída até então de qualquer formação consciente. (Paidéia, página 103)

Um comentário:

  1. olá

    aqui é o Leonardo (orientando do prof.Ari)
    Não vão dar prosseguimento ao blog? isso aqui tá mto bom...

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